Projeto aponta o caminho do empreendedorismo e da independência financeira
Por Bruna Rezende Leite
Em 2020, a pandemia de Covid-19 fez o comércio e os serviços de atendimento praticamente pararem. As demissões vieram em massa para os setores que mais empregavam mulheres no Brasil, fazendo com que a taxa de desemprego para esse grupo chegasse a 39,4% no país, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). Nesse cenário, a única certeza é de que muitas chefes de família se viram com o dinheiro contado para pagar as contas e garantir a alimentação de seus filhos.
Como em todo momento de crise, a reinvenção foi a alternativa para essas mulheres que não poderiam mais contar com a carteira assinada. Contudo, para subir esse degrau, mais um desafio foi posto: encontrar uma formação de qualidade, gratuita, acessível e rápida. Esse foi o caso de Adelina Silva, moradora de São Gonçalo – RJ, que estava desempregada e teve a chance de se tornar uma profissional.
“Eu estava vivendo um momento muito difícil da minha vida durante a pandemia. Estava desempregada, dependendo do auxílio emergencial e da ajuda do Mercadinho Solidário do bairro. Eu queria trabalhar e os cursos do projeto Donas me ajudaram a ter a minha própria renda. Hoje atendo em domicílio para procedimentos de estética e beleza”, contou Adelina.
Adelina é uma das profissionais formadas pelo projeto Donas da Parada (@projetodonas), uma iniciativa do movimento Mulheres da Parada, que as capacita ao empreendedorismo, as ajuda a se recolocarem no mercado de trabalho e a conquistarem a independência financeira. O projeto, que tem sede na Parada São Jorge, em São Gonçalo-RJ, oferece os cursos de design de unhas, design de sobrancelhas, entrelace, depilação, extensão de cílios e automaquiagem.
“O que o projeto mais me agregou foi autoestima e empatia”, Tamires Rosa, ex-aluna do projeto
Além da formação técnica, o projeto Donas da Parada também oferece às alunas palestras sobre empreendedorismo, planejamento financeiro e empoderamento feminino. Letícia da Hora, diretora do projeto, explica a importância de aprofundar os assuntos: “Além da desigualdade social e de gênero, acreditamos que a baixa autoestima é um dos fatores para que essas mulheres permaneçam em situação de vulnerabilidade social. Para que elas consigam concluir o curso e praticar o que aprenderam, elas primeiramente precisam conhecer e acreditar em seu potencial, para assim vislumbrarem a melhoria da qualidade de vida de suas famílias”.
Para Tamires Rosa, ex-aluna do projeto, um dos grandes ganhos do curso foi poder recuperar a autoestima e ver as colegas de classe também conquistando sua independência. “Pra mim é muito gratificante poder auxiliar outras mulheres a aumentarem a autoestima, não apenas com a estética, mas também com uma conversa, ou um desabafo, entre um procedimento e outro. O que eu aprendi com o projeto Donas eu não levo só para a profissão, mas para a vida!”.
Espaço Donas, um empreendimento sustentável
A fim de gerar sustentabilidade ao projeto, foi criado o Espaço Donas, onde as alunas com melhor desempenho durante a realização dos cursos, podem passar por um estágio de aperfeiçoamento das habilidades. O espaço é baseado nos princípios da Economia Solidária, no qual as alunas formadas possuem autonomia para exercer sua profissão e possuem participação nos lucros. Além disso, parte da renda arrecadada com os serviços é revertida para investimento em novos cursos e palestras.
Para Letícia da Hora, o modelo de negócios baseado na economia solidária é o ideal. Ela que vem aprendendo sobre o assunto por meio do Banco Comunitário do Preventório, uma associação comunitária que visa promover o desenvolvimento econômico e incentivar o consumo em moeda social. Letícia conta que um dos objetivos do Espaço Donas é trabalhar o lucro e a remuneração de maneira mais justa: “No Espaço Donas trabalham as alunas que tiveram melhor desempenho. Elas são autônomas, responsáveis por suas agendas, remuneradas de acordo com a produtividade e têm participação nos lucros”.
O Projeto Donas da Parada já beneficiou 14 mulheres que aprenderam uma profissão e se tornaram “donas” da sua renda, do seu trabalho e da sua liberdade.
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